UM HINO PARA A FORÇA AÉREA BRASILEIRA
(Fórum no 40, jul/ago 2013)
Já de algum tempo venho me propondo a escrever este artigo que, devido a proverbial preguiça, venho adiando dia após dia. Tanto adiei que um dos protagonistas da história – nosso querido e inesquecível veterano de guerra, Maj Brig José Rebello Meira Vasconcelos – veio recentemente a falecer.
E no embalo da dor do seu falecimento e da vibração vivida poucos dias atrás, quando da cerimônia militar na Academia da Força Aérea de transmissão do cargo de seu comandante, é que, finalmente, decidi-me a pôr no papel algumas ideias.
Talvez tenha passado despercebido que não temos um hino da Força Aérea Brasileira. Entoamos o hino dos aviadores como se nosso hino fosse, mas bem sabemos a diferença de um piloto militar do aviador de uma forma geral.
Em verdade essa diferença – Aeronáutica e Força Aérea – dá margem a uma série de considerações que extrapolam o objetivo deste artigo, mas é certo que sentimos e sabemos a diferença existente, a ponto de um antigo Comandante da Aeronáutica ter manifestado que se sentiria realizado o dia em que colocasse no prédio do comando na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, o letreiro “Comando da Força Aérea Brasileira” ao invés de “Comando da Aeronáutica” como até então existia.
Voltando ao objetivo inicial proposto, o fato é que não temos um hino da Força Aérea.
Segundo o dicionário De Michaelis, a definição de hino é: “SM (gr hýmnos) 1 canto de louvor ou adoração, especialmente religioso. 2 canto musicado em exaltação de uma nação, de um partido, de uma instituição pública ou instituto particular, agremiação e semelhantes. 3 canção, canto, coro. col hinário”.
Numa linguagem militar, diria que hino é um cântico que emula guerreiros no combate, que incentiva a união, o espírito de corpo, a superação de obstáculos, cantado não com a voz, mas entoado pelo coração, e que nos leva ao sacrifício de tudo, até mesmo da própria vida na defesa daquilo que entendemos como certo em defesa da pátria.
Os mais antigos sabem, mas os mais jovens talvez desconheçam que nossa Força, no início, era dividida entre os “provenientes” do Exército e os “oriundos” da Marinha, que passaram a viver dentro de uma mesma estrutura por força da criação do Ministério da Aeronáutica e a extinção da Aviação Militar do Exército e da Aviação Naval da Marinha. Essa divisão era tão forte que se dizia à boca pequena, que a FAB só engrenaria no dia em que tivesse oficiais- generais for mados já pela Escola de Aeronáutica, dentro de uma doutrina única.
Como veem, muito se passou para termos uma Força Aérea unida em torno de um mesmo ideal e professando as mesmas ideias. E esse longo caminho iniciou em 1941, quando os aspirantes da Marinha e os cadetes do Exército se reuniram pela primeira vez debaixo de um mesmo teto no Campo dos Afonsos para dar consecução à Força Aérea Brasileira e ao Ministério da Aeronáutica.
E dentro desse quadro de doutrinas diferentes, de rivalidades existentes é que surgiu, no fundo de um alojamento da Escola de Aeronáutica nos Afonsos, a canção “Bandeirantes do Ar”.
Contava o Maj Brig Meira que dentro daquela confusão generalizada existente e de desconfianças mútuas foi que surgiu um aspirante oriundo da Escola Naval que começou a escrever, nos fundos de um alojamento, ao fim de mais um dia de trabalho, e em meio aos companheiros ali reunidos,os primeiros versos da canção: “...a esquadrilha é um punhado de amigos, a vibrar a vibrar de emoção, não tememos da luta os perigos, nem dos céus a infinita amplidão, sobre mares, planícies, sobre montes, viveremos por sempre a voar, bandeirantes de novos horizontes para a bandeira da Pátria elevar, bandeirantes de novos horizontes para a suprema conquista do Ar!”
Se fecharmos os olhos e imaginarmos a cena... desconhecidos vindos das mais diferentes origens, com pensamentos os mais diversos possíveis, com desconfianças mútuas, de repente reunidos nos fundos de um alojamento e entoando... “Nós somos da Força Aérea Brasileira, o nosso emblema é a águia altaneira, que há de ser grande, forte e varonil, lutaremos, morreremos, pela Bandeira do Brasil!...” podemos facilmente perceber a força que a canção passou a ter na formação do espírito de corpo que hoje orgulhosamente temos.
“Entre as nuvens dos céus vendo a terra, vivem lá os cadetes do ar, comandando a grande arma de guerra, baluarte da Pátria sem par, adestrados ao fogo da metralha e ao governo de seu avião, estarão sempre prontos à batalha, para a defesa do nosso torrão, estarão sempre prontos à batalha, por defender o auriverde pendão!”
Meus nobres amigos, nós somos exatamente isso que a canção entoa, independentemente do nosso quadro ou especialização. Ela exprime exatamente o que sentimos quando vestimos nossa farda azul barateia... um punhado de amigos, a vibrar de emoção, somos bandeirantes de novos horizontes, somos da Força Aérea Brasileira, o nosso emblema é a águia altaneira e lutaremos e morreremos pela Bandeira do Brasil!
Não me perdoo o fato de só colocar essas ideias no papel após a morte do nosso querido Maj Brig Meira, pois ele teria a oportunidade ímpar de relatar de própria voz e como testemunha ocular de como os fatos aconteceram. De qualquer forma fica o registro por ele relatado.
Não tenho nada contra o Hino dos Aviadores. Pelo contrário, ele é belíssimo e tem, por certo, seu lugar de destaque assegurado. Mas é dos aviadores em geral... nada contra, mas entoando um e outro eu me sinto muito mais identificado pela canção Bandeirantes do Ar do que por ele.
Somos militares, somos aviadores militares, nem melhores nem piores... mas certamente diferentes dos demais aviadores, e dentro desse espírito é que proponho que a Força Aérea oficialize a Canção Bandeirantes do Ar, hoje hino da Academia da Força Aérea somente, como hino da Força Aérea Brasileira como um todo.
Um forte abraço a todos.